sábado, 14 de outubro de 2017

filha da escuridão

Ela era uma freira.

Tinha apenas 21 anos quando encontrou seu amor, um jovem padre recém ordenado.

Dessa paixão proibida ela engravidou.

A Igreja a enclausurou durante todo o período da gravidez. Quando seu filho nasceu, foi retirado de seus braços e entregue como comida para os porcos do convento.

Até hoje ela vive presa num calabouço, isolada do mundo e sem contato com a luz.

Criação, foto, texto e arte: Nixon Vermelho
Modelo: Bruna Lima

segunda-feira, 5 de junho de 2017

sangue negro

Todas as noites a fera interior busca mais alimento.

Ela já foi uma mulher, mas hoje não se lembra mais o que ela foi e o que representava.

Consumida por uma fome de sangue, seus olhos negros buscam a presa ideal, que sacie o seu desejo por calor, que mate a sede que ela sente de forma tão profunda.

O sol não mais ilumina a cidade e durante as poucas horas em que as trevas cobrem as ruas da metrópole, ela, feito um demônio de pele alva, caça seu alimento.

O casal que dobra a esquina não tem mais do que uns vinte e poucos anos cada um. O olhar negro da fera brilha. Ela sorri e salta com a leveza de um felino. Um balé de vida e morte se desenha sobre a calçada fria. A carne é adocicada e mais uma vez ela se delicia.

Criação, foto, texto e arte: Nixon Vermelho
Modelo: Camila Scremin

sábado, 25 de junho de 2016

No Escuro da Noite

A vida de Lúcia mudou em uma noite fria.

Foi no inverno de 1970, quando seu marido, seu filho de nove anos e ela resolveram visitar uns amigos que viviam no interior de Santa Maria.

Eram 20h quando eles pegaram a estrada do Perau. A névoa era densa e eles mal conseguiam enxergar para fora do carro, e a medida que subiam o morro a situação piorava cada vez mais. E foi em uma curva mais fechada, quando a escuridão já abraçava a estrada, que eles viram aqueles seres caminhando pela mata fechada, como se saídos de dentro das sombras.

Assustados param o carro e tentam voltar, mas é impossível, o carro esta cercado por vultos disformes com aspecto ósseo e carne branca. As mãos começam a quebrar os vidros do carro e os três são arrancados de dentro. Ela chama pelo marido e filho mas só escuta gritos desesperados deles.

Ela sente que unhas corrompem seu corpo e a cortam em pedaços, suas roupas são rasgadas, seu couro cabeludo é arrancado com dentadas. A dor é lancinante, mas mesmo com tudo isso ela não morre.

De repente o silêncio e mais nada. Arrastada pelo chão úmido ela escuta apenas um som abafado, como de algum animal rasgando a carne de sua presa.

Chorando ela espera o mesmo fim, mas quando param de puxá-la os seres começam a circular ao seu redor. Um deles se abaixa e aproxima o rosto perto do rosto dela. Ela olha e não vê os olhos, percebe que são apenas buracos vazios.

O ser para a menos de uma palmo dela, do buraco onde era uma boca, uma fileira de dentes podres e pontiagudos formam o que parece ser um sorriso bizarro.

A criatura nefasta emite um sussurro repetido que ela se esforça a entender. Por várias vezes ela só sente o bafo podre e um som estranho que parece formar palavras, até que em um instante ela entende o que ele quer dizer.

- Uma de nós. - a besta fala repetidamente.

Olha ao redor e todos os seres começam a se afastar.

Ela entende porque foi poupada, não está mais viva... agora, ela é um deles

Criação, foto, Texto e arte: Nixon Vermelho
Modelo: Danielly Cerezer Benetti

terça-feira, 31 de maio de 2016

A Mulher da Pele Amarela

Uma pequena história de bruxas.

Ela sempre é avistada em noites escuras, andando por entre as árvores. Sempre em regiões de matagais no interior do RS.

Quem a viu, sempre diz que é o vulto de uma mulher nua de pele muito amarelada e de aspecto doentio. Outros dizem que ela não tem olhos, mas apenas dois buracos no rosto.

Pessoas de mais idade comentam que se você for acampar no inverno e encontrar com a mulher da pele amarela, não deve olhar para seu rosto, pois ela sempre retorna para buscar a alma daqueles que cruzaram o seu caminho.

Criação, texto, foto, arte: Nixon Vermelho
Modelo: Binca Marie

sexta-feira, 29 de abril de 2016

Brumas


Nada é pior do que ser amaldiçoado ao nascer.

No nascimento de Laura aconteceu justamente isto. Sua mãe morreu ao dar a luz e seu pai ficou com raiva da criança que havia acabado de nascer. Ele simplesmente abandonou a pequena Laura no hospital e nunca mais foi visto.

A criança sem pai e sem mãe foi adotada por uma velha cigana que a criou como empregada, como uma escrava para seus desejos pérfidos.

Viviam dentro de uma casa horrenda em um lugar esquecido por todos e cercado de brumas tão espessas com paredes frias e úmidas de um calabouço inglês.

Ao completar 13 anos, Laura não aguentou mais as dores e as humilhações sofridas e resolveu matar a velha cigana envenenada.

Como acontecia todas as noites, a pequena menina levou a sopa para a mulher tomar na cama. A velha tomou tudo sem imaginar que Laura havia colocado boas doses de veneno de rato entre os temperos do caldo.

Não demorou muito e a cigana começou a gritar de dor ao sentir suas entranhas se queimarem devido aos efeitos do veneno. A mulher caiu no chão borbulhando pela boca e morreu de olhos abertos fitando a menina que sorria para ela.

O que a pequena Laura não imaginava é que ao fazer isto estava selando o seu destino. Ao morrer, a velha levou com ela o segredo de como sair daquela casa escura no meio da mata esquecida.

Com isto, o resto da vida de Laura estava definido, ela passaria até o dia da sua morte dentro da casa, se alimentando dos animais que ali passavam. Conviveria com a carne apodrecendo da velha cigana e com o espírito dela zombando da sua tentativa de ser livre.



No fim de tudo, aquela casa seria sua tumba em vida.

Texto, criação, arte e foto: Nixon Vermelho
Modelo: Bianca Marie

segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

A Irmã da Misericórdia

Sozinha em casa, esperando pelo amor que nunca retornou, com um rosário nas mãos.

A sua alma em queda, em profundezas cada vez mais escuras.

Sua pele, marcada pelos amores de outrora, tatuada na tinta pálida da paixão juvenil, a lembra todos os dias que foi abandonada.

Hoje as paredes da sala vazia enclausuram o que ainda lhe resta de esperança. Ela se sente dormindo com anjos caídos. Não pensa em mais nada que possa apaziguar a sua dor eterna.

A chama da fé não mais existe.

A única solução é o metal negro que congela a sua mão ao menor toque. Ela pega a lâmina e passa em sua pele, rasgando a carne pura.

O vermelho quente sobre o branco frio na lenta dança do suicida.

Seu fim e o começo em um novo inferno.



Texto, criação, foto e arte: Nixon Vermelho
Modelo: Bianca Marie

domingo, 24 de janeiro de 2016

A Casa Escura

Todos diziam que a mulher da casa escura era uma louca.

Ninguém acreditava no que ela dizia, mas ela sabia que as vozes não eram da sua imaginação.

Desde criança ouvia as vozes sussurrando, dizendo que a devorariam, que comeriam sua carne.

Ela sabia que os seres da escuridão buscariam ela um dia, assim como já tinham levado toda a sua família. E este dia estava próximo, pois nos ultimamente a voz não falava mais em um sussurro e sim em um tom alto, como se estivesse sempre atrás dela, muito próximo da sua nuca.

Devido ao medo ela lacrou todas as portas e janelas e se trancou dentro de um quarto.

Após dias sem ser vista pelos vizinhos, em uma madrugada fria todos nas casas ao redor ouviram um longo grito de desespero vindo da casa dela.

Chamaram a polícia, que ao chegar arrombou a residência. Ao entrarem, tudo estava quebrado, não havia um móvel inteiro. Pelas paredes, desenhos estranhos como palavras de uma língua antiga, feitos com sangue. Todas as peças da casa estavam assim.


Ao chegar no último quarto, estranhamente a porta estava trancada por fora. Ao abrir, os policiais não encontraram ninguém, apenas uma grande poça de sangue junto com alguns dentes quebrados e nenhum sinal da mulher. 

Texto, criação, foto e arte: Nixon Vermelho
Modelo: Bianca Marie